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25 de Maio de 2011

Carlos Alberto Vieira Lima: “Não somos os vilões”

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No comando de uma entidade que representa um setor responsável por 19% do PIB baiano e que emprega mais de 167 mil pessoas, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia – Sinduscon-BA, Carlos Alberto Vieira Lima, fala com exclusividade para o Gente&Mercado. Nesta entrevista, ele critica a falta de transparência nas regras para a liberação de licenciamentos – que, segundo ele, tem afastado investidores –, e criado uma imagem negativa do setor.

G&M – Como está o mercado da construção civil na Bahia?

Carlos Alberto Vieira Lima – Ele está parado, há cerca de três meses, aguardando os próximos acontecimentos envolvendo a economia nacional. A expectativa é que a situação melhore a partir do terceiro trimestre. O ajuste fiscal, o controle da inflação e a redução do crédito devem impactar no setor. Com isso, a expectativa é que o mercado não repita, este ano, o desempenho de 2010, quando crescemos 14,6% em relação a 2009. Este ano, o crescimento deve ser de 7,5%.

G&M – Pela quantidade de imóveis lançados no mercado e que ainda não foram totalmente comercializados, a impressão que se tem é que a oferta é maior que a procura. Qual a explicação para isso?

CAVL - Isso não existe. Se há um déficit habitacional de 600 mil moradias na Bahia, não pode haver uma oferta maior que a demanda. A questão aqui é a incapacidade do comprador em adquirir os imóveis ofertados.

G&M – Os últimos acontecimentos envolvendo o setor da construção civil, como o caso das transcons, alvarás irregulares, abalaram a imagem das empresas da área. Vocês percebem isso?

CAVL – Não. Um setor que está inserido na vida do cidadão – nas estradas, avenidas, colégios, hospitais, moradias – não pode ser visto de forma negativa. A construção civil alavanca o mercado de trabalho e é responsável pelo desenvolvimento. Não somos os vilões. É necessário que as regras sejam claras para quem inicia um empreendimento. Não pode um órgão dar uma licença e o outro cassar. Isso cria uma insegurança jurídica. Veja o que aconteceu com a questão do Hotel Hilton, quantos empregos poderiam ser gerados. Esta insegurança afasta os investidores. Tem empresas nacionais e estrangeiras que tentaram fazer investimentos no Estado e desistiram por falta de garantias, de transparência.

G&M – O senhor pode citar alguns desses investidores?

CAVL – Prefiro não dar nomes.

G&M – Um dos problemas enfrentados pelo setor é a falta de terrenos, o que tem levado à especulação imobiliária…

CAVL – Todas as grandes cidades brasileiras passam pelo mesmo problema de falta de terreno para investimentos, tanto para as classes alta e média como para a de baixa renda. Em Salvador, o problema é muito grave, por isso as casas estão sendo substituídas por prédios, mas isso é arranhar o problema. Quem faz isso é encarado como especulador. Se existe um déficit habitacional, como é que se fala em especulação imobiliária? Há quatro anos, o valor do terreno representava 15% do valor do empreendimento, hoje chega a 30% em algumas regiões nobres da cidade.

G&M – Qual será o próximo vetor de crescimento da cidade?

CAVL – Pode ser a Cidade Baixa, a Ilha, a partir da construção da ponte, e o Litoral Norte. Essas áreas não são hoje mais atrativas pela questão da mobilidade urbana, mas, a partir de 2012, com os investimentos ligados à Copa do Mundo, podem ser beneficiadas. O Centro Antigo de Salvador tem potencial para oito mil unidades residenciais.

G&M – Na sua avaliação, existe bolha imobiliária no País?

CAVL – Não. No Brasil, a participação no financiamento é pequeno e o déficit muito grande. O que pode acontecer é uma oferta maior ou menor, a depender da economia. Temos ainda muito espaço para crescer. Podemos ter até bolha, mas daqui a 20 ou 30 anos.

G&M – Vamos falar sobre um dos gargalos do setor: a mão-de-obra qualificada. Qual o déficit atual?

CAVL – Em 2007, o setor empregava 80 mil pessoas. Hoje, são mais de 167 mil. Não existe mão-de-obra capacitada para atender ao crescimento do mercado. Estão faltando profissionais em todos os setores, desde oficiais (pedreiros, carpinteiros, encanadores) até engenheiros. Diria que o déficit é de 30 mil profissionais. Essa falta de profissionais acarreta baixa produtividade, atraso na entrega da obra. Diria que, juntamente com a falta de terreno e a clareza das regras de licenciamento, é o principal desafio do setor. Com a diferença de que talvez seja o que mais demore para ser regularizado. 

 

Clique aqui e confira a entrevista no site Gente & Mercado: http://genteemercado.com.br/2011/05/25/carlos-alberto-vieira-lima-nao-somos-os-viloes/